Verbos impessoais e sua concordância verbal

30 maio 2009

Verbos impessoais são aqueles que formam oração sem sujeito, ou seja, não possuem sujeito ou agente específico. Por isso, os verbos impessoais sempre ficam na terceira pessoa do singular (com exceção do verbo ser).

Os verbos impessoais são:

1) Haver, no sentido de existir:

Exemplo: muitas pessoas barulhentas nessa sala. (verbo + objeto direto)

Obs1: Quando "haver" assume a função de verbo auxiliar em uma locução verbal, o verbo principal também é considerado impessoal.
Exemplo: Deve haver muitas pessoas barulhentas nessa sala. (locução verbal + objeto direto)

Obs2: O verbo existir é pessoal, portanto, possui sujeito. Dessa forma, temos:
Exemplo: Existem muitas pessoas barulhentas nessa sala. (verbo + sujeito, portanto, o verbo vai concordar em pessoa e número com o sujeito). Nesse exemplo, como o sujeito refere-se à terceira pessoa do plural, o verbo também é conjugado na terceira pessoal do plural.

2) Verbos que indicam tempo, como: haver e fazer.

Exemplos: a) muitos dias que não vejo Maria. (verbo + objeto direto)
b) Faz muitos dias que não vejo Maria. (verbo + objeto direto)
c) Deve haver muitos dias que não vejo Maria. (locução verbal + objeto direto)
d) Deve fazer muitos dias que não vejo Maria. (locução verbal + objeto direto)

3) Todos os verbos que indicam fenômenos meteorológicos são impessoais e, portanto, permanecem na terceira pessoa do singular.

Exemplos: a) Choveu muito na noite passada.

b) Nevou pouco no inverno passado.

c) Amanheceu devagar.

4) O verbo ser - em datas, horas e distâncias - é impessoal, porém, concorda com o seu predicativo, podendo ser conjugado no plural ou no singular (é a exceção da regra).

Exemplos: a) Já são duas horas da manhã! (verbo + predicativo)

b) Hoje é primeiro de junho. (verbo + predicativo)

c) Hoje são vinte e três de maio. (idem)

d)Hoje é vinte e três de maio (nesse caso, subentende-se que é dia vinte e três de maio e, portanto, o verbo "ser" concorda com "dia")


Coesão textual

19 maio 2009

O termo coesão significa “união íntima entre as partes de um todo”. Se, por exemplo, afirmamos “há coesão entre os jogadores daquele time”, significa que existe união entre os jogadores, que eles atuam em conjunto e não de forma isolada.
Da mesma forma, podemos dizer que um texto com coesão é aquele cujas frases e cujos parágrafos estão unidos, como se tivessem sido costurados uns aos outros (isso não significa que um texto terá um único parágrafo ou uma única frase!).
Para deixar um texto coeso, usamos alguns recursos/elementos de coesão, que são palavras que estabelecem relações entre os termos de uma frase, ou entre as próprias frases, ou entre um parágrafo e outro.
Serão destacados aqui alguns desses recursos de coesão.


1. Coesão por referência:
Os elementos de referência são aqueles que não têm um significado por si mesmos, pois remetem a outros itens do texto que são necessários à sua interpretação.
Na coesão por referência, “há total identidade referencial entre o item de referência e o item pressuposto”.
Exemplos: a) Pedro e Maria são crianças ingênuas. Eles aceitaram doces de estranhos. (referência pessoal)
b) Maria foi mal em todas as provas, menos nesta: a que tratava de pronomes. (referência demonstrativa)
c) Essa discussão está sendo igual à de ontem. (referência comparativa)


2. Coesão por substituição: ocorre quando um item é colocado no lugar de outro elemento do texto ou, até mesmo, de uma oração inteira.
Na coesão por substituição, a identidade referencial entre o item de referência e o item pressuposto não é total ou, nela, há uma especificação nova, pelo menos, a ser acrescentada (o que exige um mecanismo que seja gramatical e não semântico).
Exemplos: a) Pedro estudou muito para a prova e Maria também.
b) Pedro comeu pudim depois do almoço. Maria fez o mesmo.
c) Eu tomei um sorvete de chocolate. Pedro tomou um de flocos.


3. Coesão sequencial: ocorre à medida em que um texto progride e, entre seus fragmentos, vai se estabelecendo uma relação pragmática e/ou de significado. Esse tipo de coesão é feito através de palavras de transição.

Palavras de transição:
* No começo/introdução do texto: em primeiro lugar, antes de tudo, antecipadamente, antes de mais nada, a princípio, de antemão, primeiramente, à primeira vista, inicialmente, desde já.
* Para dar continuidade/adicionar idéias ao texto: além disso, ainda mais, por outro lado, também, outrossim, não só... mas também, acresce que, da mesma forma, do mesmo modo, juntamente com, bem como, ainda por cima, em conjunção com, além de que, ademais.
* Na conclusão: enfim, finalmente, em resumo, em conclusão, por fim, portanto, logo, em síntese, nesse sentido, dessa forma, em suma, definitivamente, assim, resumindo, afinal.
* Para indicar tempo: então, logo depois, imediatamente, logo após, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, por fim, atualmente, hoje, frequentemente, às vezes, constantemente, ocasionalmente, sempre, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio-tempo, enquanto isso, concomitantemente.
* Para indicar semelhança, conformidade: igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, conforme, segundo, sob o mesmo ponto de vista.
* Para indicar causa e consequência: por consequência, por conseguinte, com resultado, por isso, por causa de, de fato, em virtude de, assim, com efeito, logicamente, naturalmente.
* Para exemplificar e esclarecer ideias: então, quais sejam, ou seja, por exemplo, a saber, quer dizer, isto é, em outras palavras, ou por outra, em outros termos, e termos simples, sem rodeios, em linguagem clara, rigorosamente falando, ou mais simplesmente.



Referências:
1. KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2007.
2. NICOLA, José de; TERRA, Ernani. Práticas de linguagem: leitura & produção de textos, volume 4. São Paulo: Scipione, 2000.
3. SARGENTIM, Hermínio. Produção de textos, volume 4. São Paulo: IBEP, 2004.



(o conteúdo deste post é QUASE todo paráfrase ou citação literal de um dos autores acima)

Depois daquela viagem

13 maio 2009




A autobiografia de Valéria Piassa Polizzi, Depois daquela viagem, é contada numa linguagem simples e descontraída, o que atrai os jovens leitores. Nela, a autora relata como contraiu o vírus HIV e como leva a vida apesar disso, desmistificando muitas questões a respeito desse tema.


A primeira coisa que nos chama atenção é que ela se contaminou ao ter a primeira relação sexual da sua vida, com um namorado. Os dois eram de classe média, tinham boa aparência e família, enfim, nada havia que pudesse levantar suspeitas sobre o seu estado de saúde. Acontece que o namorado de Valéria era usuário de drogas e contraíra o vírus da Aids com seringas contaminadas (coisa que ela nem imaginava, claro). E ela, aos 16 anos, acabou transando com ele sem camisinha!


Aos 18 anos, Valéria descobre que era portadora do vírus HIV e, após o susto e a crise inicial, ela faz de tudo para continuar levando a vida como sempre quisera, concentrada em viver, com coragem para mostrar ao mundo de que ela é uma pessoa, acima de qualquer condição.


Enfim, Depois daquela viagem é um livro que nos faz refletir não só sobre questões relacionadas à Aids, mas, também, sobre o preconceito de uma modo geral. Por isso − e porque meus alunos do nono ano adoraram a leitura desse livro − é que resolvi indicar essa autobiografia para vocês.


Termino aqui com o finalzinho dessa história:

"Quanto ao preconceito, às vezes ainda me sinto como Edward mãos de tesoura, preso em seu castelo, fazendo obras de arte porque não há outro jeito com o qual possa tocar as pessoas. Lembra-se desse filme? Mas quem sabe um dia todos nós aprenderemos e a cada vez que conhecermos alguém, seja ela ou ele, branco, preto, amarelo, vermelho, gordo, magro, feio, bonito, judeu, muçulmano, homossexual, alto, careca, gago, adotado, anão, com AIDS, sem AIDS, rico, pobre, cabeludo, fanho, cego, corcunda, excepcional, vesgo, inteligente, olhos puxados, hemofílico, bicho-grilo, miserável, graduado, travesti, místico, sem-terra, mexicano, americano, empregado, patrão, prostituta, enfermeira, médico, padre, novo, velho, ateu, tatuado, com tuberculose, com hanseníase, com mão de tesoura, sem braços, surdo, paraplégico, mudo, ignorante... nos lembraremos de que, antes de tudo isso, é apenas uma pessoa.

E melhor ainda será se, depois de tudo isso, ainda pudermos ser amigos. "

Boa leitura!